Os moradores de Orange County, no Estado americano da Califórnia, bebem esgoto há mais de vinte anos, sem problema. Parece nojento, mas não é. O reúso foi a solução encontrada para que o lugar não secasse. Seria uma pena. Além de 2,5 milhões de habitantes, Orange County abriga o parque temático mais famoso do mundo, a Disneylândia.
No final da década de 60, o lençol subterrâneo que abastece a região já estava superexplorado pela irrigação de extensas plantações de laranja. Com a redução do nível do aqüífero, o sal do Oceano Pacífico começou a infiltrar-se ali, ameaçando o abastecimento. Se a fonte fosse contaminada, seria o fim. O condado fica num deserto e depende totalmente da água subterrânea.
Para revitalizar o manancial, os californianos criaram a Fábrica de Água 21, uma usina-piloto de tratamento especializada em purificar esgoto e injetá-lo de volta no solo (veja o infográfico), para reencher o lençol. Hoje, além do aqüífero permanentemente cheio, Orange County evita a contaminação pela água do mar e garante seu próprio abastecimento. Com esgoto? Exatamente. “No subsolo, a água do reúso, devidamente tratada, acaba se diluindo na água fresca subterrânea”, explica Aldo Rebouças, da USP. As próprias rochas do subsolo, que são porosas, ajudam a filtrar naturalmente toda a massa líquida. “Depois de um ano ela está purificada”, diz Rebouças.
Não é só a Califórnia que recicla água. “No Arizona, 80% do esgoto também volta às torneiras”, afirma Andy Richardson, da empresa de engenharia ambiental Greeley e Hansen, em Phoenix. “Reúso é a palavra-chave quando se fala em gestão de recursos hídricos”, ressalta o engenheiro ambiental Ivanildo Hespanhol, da USP. Reciclar água representa não só alívio para as reservas do líquido como também para o bolso do consumidor. Em países ricos e carentes de fontes naturais, como o Japão, a retirada de água fresca dos reservatórios é taxada pesadamente. Sai bem mais barato reutilizar. “Em 1997 o país reutilizou 77,9% de toda a água destinada à indústria”, afirma Haruki Tada, do Departamento deRecursos Hídricos da Agência Nacional da Terra. Os rejeitos da indústria ficam por lá mesmo. São empregados também para lavar os trens e metrôs e irrigar jardins públicos. No Brasil – só pra você acordar –, tudo é feito com água potável.
Vamos pensar nesta ideia para juntos melhorar o mundo
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