terça-feira, 27 de setembro de 2011

Brasil tem escassez na fartura


Imagine um país que detém, sozinho, 16% do total das reservas de água doce do planeta. Que tem ao mesmo tempo o maior rio e o maior aqüífero subterrâneo do mundo. Que, para causar inveja, ainda apresenta índices recorde de chuva. Esse país existe. E, como você sabe, suas maiores cidades sofrem racionamento de água.
O Brasil não usa nem 1% do seu potencial de água doce. Ainda assim, metrópoles como São Paulo e Recife enfrentam colapso no abastecimento público. O que acontece? Segundo os especialistas, o problema é só mau gerenciamento. “Temos rios degradados, índices de perda assustadores nas companhias de água e um desperdício inconcebível por parte da população”, enumera José Almir Cirilo, presidente da Associação Brasileira de Recursos Hídricos, em Recife. É claro que o crescimento desordenado das cidades ajuda a piorar. “Sem planejamento não há proteção de nascentes nem dos reservatórios naturais. Isso custa caro para as companhias e para a sociedade, pois depois será preciso despoluir a água ou trazê-la de outro lugar”, diz a coordenadora do Programa Nacional de Combate aoDesperdício de Água, Claudia Albuquerque.
São Paulo, que este ano começou a racionar depois de apenas dois meses de seca, é um caso exemplar. A cidade matou sua maior fonte de água, o Rio Tietê. Hoje, é obrigada a tirar metade do que consome de uma bacia hidrográfica vizinha, a do Rio Piracicaba. A Companhia de Água e Saneamento Básico de São Paulo (Sabesp) fornece a cada um dos 16 milhões de moradores da região metropolitana 370 litros de água por dia – o triplo do mínimo necessário para uso humano. Só que o desperdício na rede de água chega a quase 40% – o equivalente à média brasileira –, enquanto o aceitável no mundo é metade disso! Toda essa água escapa por furos nos canos, redes defeituosas carantes de manutenção e por ligações clandestinas
São Paulo joga fora, por dia, 1 bilhão de litros de água. Isso equivale ao volume da Represa de Guarapiranga, um dos seus quatro reservatórios. Para compensar as perdas, há anos os depósitos são explorados acima da recarga média – tira-se mais água por dia do que os rios e as barragens conseguem repor. Deu no que deu.

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